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Embaixada fez lobby em nome das indústrias farmacêuticas

Hoje o WikiLeaks disponibilizou no seu site documentos que contam como fucniona o lobby americano para proteger as patentes das empresas americanas. Os documentos podem ser vistos neste link.

Os telegramas mostram como os diplomatas atuavam para influenciar entidades brasileiras – em especial a Confederação Nacional das Indústrias – para evitar que a quebra de patentes de remédios anti-HIV se propagassem para outros medicamentos e produtos.

O temor da indústria americana fica claro por exemplo em um telegrama enviado em 26 de setembro de 2003, pouco depois que o governo assinou um decreto que permitia o licenciamento compulsório de remédios se houvesse uma emergência.

Nele, o diplomata Richard Verdin relata o que chama de “um crescente sentimento antipatentes no Brasil”.

O Brasil é mantido em uma lista “de alerta” (Spcial 301 Review) do governo americano sobre pirataria e respeito à proriedade intelectual. Os EUA tinham claramente um enorme receio quanto ao Governo Lula – que chegou a quebrar uma patente apenas, de um medicamento antiretoviral.

“Mais atenção para problemas de propriedade intelectual, especialmente na área de direitos de copyright, deve acontecer durante o novo governo Lula”, diz um telegrama de 2 de março de 2003. “É muito cedo para avaliar o compromisso do novo governo”.

“Manter o estatus do Brasil na lista Special 301 será o equilíbrio ideal entre o reconhecimento de uma tradição ruim em termos de respeito à propriedade intelectual, a esperança que o novo governo atue contra isso e o reforço da mensagem de que a propriedade intelctual continua sendo prioridade na nossa agenda bilateral”, conclui o documento.

A indústria farmacêutica americana não gostou nada  da quebra da patente do medicamento anti-HIV Efavirenz, produzidos nos EUA e usado no combate à AIDS, em setembro de 2007.

Desde 2004 o embaixador John Danilovich se encontrava com diversos representantes do Itamaraty, como mostra um telegrama enviado em 10 de junho de 2005.

“No dia 10, o embaixador se reuniu com Clodoaldo Hugueney, subsecretário do Itamatary para Assuntos Econômicos e Tecnolóigicos, para discutir uma série de assuntos, principalmente a legislação que impediria a patente de medicamentos contra a AIDS, e a constante ameaça da licença compulsória contra as empresasa americanas Gilead Sciences, Abbott Laboratories, e Merck, Sharp & Dohme em relação aos seus medicamentos para AIDS”.

O telegrama revela que o embaixador estava pressionando pela mudança do projeto de lei.

“Quando perguntado pelo embaixador se um acordo entre o Ministério da Saúde e as empresas farnacêuticas poderia efetivamente matar a legislação sobre a patenteabilidade dos medicamentos contra a  AIDS, Hugueney se esquivou de dar uma resposa definitiva, mas disse que via uma ligação entre os dois temas”.

Em outro telegrama, de 21 de agosto de 2009, a diplomata Lisa Kubiske avaliou que a “resistência do Itamaraty parece ser motivada pelo desejo de o Brasil assumir a liderança entre as nações em desenvolvimento e a crença política (liderada pelo Ministério da Saúde) de que as patentes farmacêuticas contrariam o interesse público, ao limitar o acesso aos medicamentos”.

Félix: Brasil tem que se acostumar “com sacos de corpos” voltando da guerra

A frase acima foi proferida pelo ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Jorge Armando Félix, para explicar que o Brasil tem que “pagar um preço” se quer ser uma liderança mundial – segundo os telegramas revelados pelo WikiLeaks.

Segundo o relato do embaixador Clifford Sobel, a conversa se deu em janeiro de 2007, como ele detalhou em um telegrama  enviado ao Departamento de Estado às 16:40 do dia 15 de fevereiro de 2007, que será publicado hoje pelo WikiLeaks.

O telegrama secreto descreve um jantar oferecido pelo embaixador a Félix e ao Subchefe-Executivo do GSI, o General-de-Divisão Rubem Peixoto Alexandre.
Na pauta, o pedido da diplomacia para que Félix intermediasse um encontro entre a ministra-chefe da Casa Civil Dilma Rousseff e o  advogado-geral americano – além da perspectiva do Brasil colaborar com a Otan, aliança militar que inclui países da Europa e os Estados Unidos.

Preço a pagar

“Félix estava relaxado e falando francamente, enquanto Alexandre permaneceu em silêncio durante a maior parte da noite”,  descreveu Sobel. Ele perguntou sobre os benefícios do Brasil colaborar militarmente com a Otan.

“Felix pareceu circunspecto e disse que os brasileiros devem encarara o fato de que ‘um preço deve ser pago’ para obter um papel de liderança global. O Brasil deve estar disposto a modernizar e empregar suas forças em operações internacionais e confrontar a perspectiva de ‘sacos de corpos retornando ao Brasil. Félix disse que, tanto pessoalmente quanto como militar, ele acreditava que era chegada a hora do Brasil pagar o preço e assumir a posição de liderança no cenário global”, narra o telegrama.

O general diz ainda, segundo o documento, que  uma cooperação próxima com a Otan seria vista positivamente pelos militares brasileiros, que compartilham a sua visão.

Venezuela

Durante o jantar o general também teria voltado a falar do seu desafeto Hugo Chávez.

Disse que o venezuelano tinha pouca influência no Brasil, recebendo sempre críticas negativas da imprensa, e que “enquanto os governos vizinhos forem democratizamente eleitos, o Brasil tentará ser compreensivo quanto às suas idiossincrasias políticas particulares”.

Felix, interlocutor  frequente da embaixada, já tinha deixado clara suas diferenças com o governo em relação à Venezuela durante um almoço na residência do embaixador em 2005 – mas disse preferir se manter alinhado com a posição oficial.

Ele também teria reclamado da designação da Região da Tríplice Fronteira como alvo do Hezbollah. Desde 2006 o governo americano menciona possíveis atividades terroristas na tríplice fronteira com o Paraguai e a Argentina em seu relatório anual.

“Discretamente”, FBI investigou morte de Dorothy Stang

Uma série de telegramas que serão publicados hoje pelo WikiLeaks mostram como a embaixada americana em Brasília acompanhou de perto as investigações sobre a morte da missionária Dorothy Mae Stang, preocupados com a corrupção dos policiais – e como o FBI atuou no caso.

“Devido à natureza política e à extensiva cobertura midiática do caso, o FBI vai se manter extremamente discreto”, diz um telegrama.

O FBI participou na primeira fase da investigação, ao lado da polícia brasileira, reunindo provas para um processo contra Rayfran das Neves Sales e Clodoaldo Carlos Batista nos EUA. A policia federal americana chegou a entrevistar os acusados enquanto estavam sob custódia brasileira.

Os dois foram condenados por um tribunal do júri em Washington em junho de 2005. No Brasil, o último acusado, o fazendeiro Vitalmiro Bastos de Moura, só foi condenado definitivamente em abril deste ano.

O FBI mantém um escritório em Brasília para atuar em solo nacional.

A americana Dorothy Stang foi assassinada em 12 de fevereiro de 2005 em Anapu, Pará, por defender famílias sem-terra que ocupavam um projeto de desenvolvimento sustentável em uma região marcada pela violência conduzida por grileiros de terra.

O FBI, discreto

Um telegrama de 18 de fevereiro de 2005 revela que pouco depois da morte o embaixador americano John Danilovich se encontrou com o subsecretário do Itamaraty Ruy Nunes Pinto Nogueira para mostrar o interesse dos EUA no caso. Ouviu que o governo ia fazer o maior esforço para punir os culpados.

Pouco depois da morte, o advogado-geral dos EUA estudou os fatos do caso e decidiu que queria processar os assassinos nos Esatdos Unidos.

Isso porque, segundo o FBI, o crime foi uma violação à lei americana que estabelece a culpabilidade de assassinos de cidadãos americanos, mesmo em outro país.  O crime tem que ser uma “coação, ou retaliação, contra o governo ou a população civil”.

A unidade extraterritorial  do FBI, sediada em Miami, decidiu enviar dois agentes ao Brasil para auxiliar na investigação na semana do dia 21 de fevereiro. Segudo o telegrana, o time legal da embaixada estava consultando policiais brasileiros a esse respeito.

“Devido à natureza política e à extensiva cobertura midiática do caso, o FBI vai se manter extremamente discreto”, explica Danilovich.

Policiais corruptos

A embaixada acompanhou de perto o desenrolar das investigações e conversou com testemunhas-chave sobre o andamento dos processos.

John Danilovich transmite com preocupação, em um telegrama de 22 de fevereiro, o medo de um oficial envolvido na investigação – cujo nome será preservado conforme as regras de segurança do WikiLeaks –  de que a corrupção policial prejudicasse o andamento do caso.

A descrição é dramática.

“Aparentemente a investigação está correndo bem, mas há sérias preocupações de que a polícia pode estar comprometida por ligações impróprias com grandes donos de terra na região que estão envolvidos em apropriação ilegal de terra e desmatamento”, diz o telegrama.

“Um  oficial se disse ‘profundamente preocupado’ com a possibilidade de que a investigação seja manipulada pelas autoridades. Acredita-se que autoridades estatais corruptas tenham permitido a grilagem de terra em larga escala e o desmatamento durante anos”, descreve o embaixador. Essa mesma fonte diz a ele que Dorothy era “uma pedra no sapato” dos fazendeiros e policiais.

“(o oficial) não teve papas na língua, ele nos disse que os policiais nas zonas rurais estão proximamente ligados a grandes fazendeiros e são contratados como pistoleiros para intencionalmente obstruir investigações”.

Essa fonte afirmou que estar “muito preocupada com a direção da investigação, a rapidez com que a polícia encontrou os quatro suspeitos e a segurança dos que estão sob custódia”, afirmando que eles podiam ser  “apagados” na prisão. Rayfran Neves teria sido ameaçado e coagido pela PM.

Outra fonte, um político, corrobora esse alerta.

“Em razão das preocupações de longa data sobre a eficiência, corrupção e baixa moral da PM em todo o Brasil, além de preocupações especificas sobre a atuação da PM do Pará na investigação sobre Stang, vamos monitorar proximamente o caso para ver se o caso será federalizado” – conclui o telegrama.

Em outras comunicações, o embaixador mantém a preocupação com o andamento ds investigações e transmite uma visão favorável à federalização do caso.

FBI interroga no Brasil

A embaixada também foi bastante atuante ao acompanhar a visita do irmão de Dorothy, David Stang, ao Brasil.

Pouco depois da visita de David, em 3 de março, Danilovich envia outro telegrama no qual reclama do então ministro da Justiça Márcio Thomas Bastos.

“Estamos meio confusos com a relutância de Bastos de federalizar o caso devido ao alto envolvimento federal e a oportunidade do caso ser teste para a nova lei da federalização”, comenta ele.

No mesmo telegrama o embaixador explica que três investigadores do FBI –  sendo que um deles trabalha permanentemente no Brasil – viajaram até a cena no crime e “colheram testemunhos, fotos e vídeo das autoridades  policiais brasileiras”.

“Os investigadores do FBI também interrogaram os três suspeitos atualmente sob custódia brasileira”, prossegue o telegrama. “Um deles se recusou a falar e os outros reconheceram sua participação no assassinato”.

Com base nessa visita, o advogado-geral dos EUA iria apresentar  caso perante o tribunal do júri.

Imprensa critica Irmã Dorothy

Em 2 de maio, outro telegrama interessante. Nele, Danilovich descreve o que vê como uma clara tentativa da mídia local de desmerecer Dorothy Stang.

“Recentemente tem havido um esforço concertado em alguns veículos do Pará de desmerecer a Irmã Dorothy. Uma revista chamada “Hoje” publicada na última semana na cidade de Altamira fez críticas ácidas à freira e aos integrantes do PT”, diz o documento.

“O superintendente  da PF José Sales também dividiu conosco sua opinião pessoal que a Stang foi muito longe: ela uma vez procurou Sales e pediu que ele ‘retirasse os grileiros a qualquer custo’.  Quando Sales respondeu que isso teria que ser feito pelos meios legais, ela respondeu que faria ‘da sua própria maneira’” descreve.

Plantados no Chão

Clique aqui para baixar meu livro sobre assassinatos de militantes sociais acontecidos durante o governo Lula – incluindo o de Dorothy Stang.

As confissões dos sacerdotes

Finalmente estão no ar os documentos sobre conversas dos bispos brasileiros Dom Claudio Hummes e  Odilo Scherer com os diplomatas americanos, noticiados pela imprensa na manhã da terça-feira.

Para ler a tirar suas próprias conclusões é só clicar aqui (estão no pé da tabela).

Odilo Pedro Scherer

Em telegrama, embaixador é favorável à redução de reserva legal

O Código Florestal, cuja proposta de alteração volta à plenária da Câmara hoje, foi tema de um telegrama escrito pelo embaixador americano no Brasil, Thomas Shannon, em fevereiro deste ano. (CLIQUE AQUI)

Nele, Shannon transmite uma visão favorável à redução da reserva legal – uma das principais propostas do projeto de lei de de autoria de Aldo Rebelo.

O PL prevê reduzir a proporção da propriedade que deve manter a vegetação nativa (por exemplo, na Amazônia ela cairia de 80% para 50% da propriedade), além de extinguir a exigência da reserva legal para pequenas propriedades. O projeto também anistia quem não preservou e ocupou indevidamente encostas e beiras de rios.

A bancada ruralista no Congresso pressiona pela votação do projeto ainda este ano, enquanto o governo quer deixar para o próximo. O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT/SP) colocou o pedido de urgência na tramitação em votação, mas garantiu que a votação do projeto em si só sai no próximo ano. 

Foco na Amazônia

O telegrama enviado por Shannon às 19:01 do dia 10 de fevereiro deste ano começa com um apanhado histórico sobre a legislação para depois entrar em detalhes sobre a questão da reserva legal.  O foco  é a Amazônia.
Segundo Shannon, se justifica a decisão do governo Lula de postergar a aplicação da lei – que prevê multas e sanções para os fazendeiros que não respeitarem a reserva legal. “Não é nenhuma surpresa que o governo tenha evitado transformar milhões de fazendeiros em criminosos que poderiam perder suas terras; especialmente em face das eleições de outubro de 2010”.

Ele duvida que o governo consiga efetivamente aplicar a lei – e prevê que pode haver violência se o fizer.

“Se o governo quiser com seriedade penalizar um grande número de donos de terra em violação ao Código Florestal, pode esperar uma dura oposição e possivelmente até um combate violento como aqueles que aconteceram na cidade de Tailândia no ano passado, depois que o governo fiscalizou madeireoso ilegais em Novo Progresso, onde mesmo pesquisadores brasileiros vistos como ‘xeretas’  foram expulsos”.
Na ocasião, protestos de madeireiros interromperam uma operação de fiscalização ralizada pelo Ibama e a Secretaria do Meio Ambiente do Pará.

Shannon se reuniu com um representante da Confederação Nacional da Agricultura, de quem não cita o nome, e comenta que as propostas para reduzir para 50% a reserva legal “possibilitariam que uma grande quantidade de fazendeiros que não conseguem se sustentar economicamente respeitando a reserva de 80% possam seguir a lei”.

Para ele é uma “infelicidade” que projetos como o Zoneamento Ecológico-Econômico, que autoriza a redução de até 50% da área para fins de recomposição de reserva legal, não possam ser adotados mais amplamente.
Ao mesmo tempo, o diplomata reconhece o progresso do governo no combate ao desmatamento e elogia ações no sentido de regularizar a situação fundiária da região norte.
“Nunca tendo sido implamentada,  (a reserva legal) serviu principalmente como ponto de disputa entre os fazenderios e  ambientalistas, enquanto outras políticas menos controversas têm sido eficazes em reduzir as taxas de desmatamento na Amazônia”, conclui Shannon.
“Se as taxas de desmatamento continuarem a cair, então o movimento ambientalista pode mostrar mais fexibilidade em um compromisso mais pragmático em relação ao Código Florestal quando o tema voltar à pauta em 2011”, aposta o embaixador.

Telegramas sobre o pré-sal

Finalmente estão no ar os documentos referentes ao lobby do pré-sal que deverim ter sido publicados ontem. Vou incluir os links na matéria sobre o pré-sal, mas quem quiser já pesquisar, o material está nesse link:

http://wikileaks.ch/reldate/2010-12-13_0.html

 

Nos bastidores, o lobby pelo pré-sal

“A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?”. Este é o título de um extenso telegrama enviado pelo consulado americano no Rio de Janeiro a Washington em 2 de dezembro do ano passado.

Como ele, outros cinco telegramas a serem publicados hoje pelo WikiLeaks mostram como a missão americana no Brasil tem acompanhado desde os primeiros rumores até a elaboração das regras para a exploração do pré-sal – e como fazem lobby pelos interesses das petroleiras.

Os documento revelam a insatisfação das pretroleiras com a lei de exploração aprovada pelo Congresso – em especial, com o fato de que a Petrobras será a única operadora – e como elas atuaram fortemente no Senado para mudar a lei.

“Eles são os profissionais e nós somos os amadores”, teria afirmado Patrícia Padral, diretora da americana Chevron no Brasil, sobre a lei proposta pelo governo . Segundo ela, o tucano José Serra teria prometido mudar as regras se fosse eleito presidente.

Partilha

Pouco depois das primeiras propostas para a regulação do pré-sal, o consulado do Rio de Janeiro enviou um telegrama confidencial reunindo as impressões de executivos das petroleiras.

O telegrama de  27 de agosto de 2009 mostra que a exclusividade da Petrobras na exploração é vista como um “anátema” pela indústria.

É que, para o pré-sal, o governo brasileiro mudou o sistema de exploração. As exploradoras não terão, como em outros locais, a concessão dos campos de petróleo, sendo “donas” do petróleo por um deteminado tempo. No pré-sal elas terão que seguir um modelo de partilha, entregando pelo menos 30% à União. Além disso, a Petrobras será a operadora exclusiva.

Para a diretora de relações internacionais da Exxon Mobile, Carla Lacerda, a Petrobras terá todo controle sobre  a compra  de equipamentos, tecnologia e a contratação de pessoal, o que poderia prejudicar os fornecedores americanos.

A diretora de relações governamentais da Chevron, Patrícia Padral, vai mais longe, acusando o governo de fazer uso “político” do modelo.

Outra decisão bastante criticada é a criação da estatal PetroSal para administrar as novas reservas.

Fernando José Cunha, diretor-geral da Petrobras para África, Ásia, e Eurásia,  chega a dizer ao representante econômico do consulado que a nova empresa iria acabar minando recursos da Petrobrás. O único fim, para ele, seria político: “O PMDB precisa da sua própria empresa”.

Mesmo com tanta reclamação, o telegrama deixa claro que as empresas americanas querem ficar no Brasil para explorar o pré-sal.

Para a Exxon Mobile, o mercado brasileiro é atraente em especial considerando o acesso cada vez mais limitado às reservas no mundo todo.

“As regras sempre podem mudar depois”, teria afirmado Patrícia Padral, da Chevron.

Combatendo a lei

Essa mesma a postura teria sido transmitida pelo pré-candidtao do PSDB a presidência José Serra, segundo outro telegrama enviado a Washington em 2 de dezembro de 2009.

O telegrama intitulado “A indústria de petróleo vai conseguir combater a lei do pré-sal?” detalha a estratégia de lobby adotada pela indústria no Congresso.

Uma das maiores preocupações dos americanos era que o modelo favorecesse a competição chinesa, já que a empresa estatal da China, poderia oferecer mais lucros ao governo brasileiro.

Patrícia Padral teria reclamado da apatia da oposição: “O PSDB não apareceu neste debate”.

Segundo ela, José Serra se opunha à lei, mas não demonstrava “senso de urgência”. “Deixa esses caras (do PT) fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava… E nós mudaremos de volta”, teria dito o pré-candidato.

O jeito, segundo Padral, era se resignar. “Eles são os profissionais e nós somos os amadores”, teria dito sobre o assessor da presidência Marco Aurelio Garcia e o secretário de comunicação Franklin Martins, grandes articuladores da legislação.

“Com a indústria resignada com a aprovação da lei na Câmara dos Deputados, a estratégia agora é recrutar novos parceiros para trabalhar no Senado, buscando aprovar emendas essenciais na lei, assim como empurrar a decisão para depois das eleições de outubro”, conclui o telegrama do consulado.

Entre os parceiros, o OGX, do empresário Eike Batista, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Confederação Naiconal das Indústrias (CNI).

“Lacerda, da Exxon, disse que a indústria planeja fazer um ‘marcação cerrada’ no Senado, mas, em todos os casos, a Exxon também iria trabalhar por conta própria para fazer lobby”.

Já a Chevron afirmou que o futuro embaixador, Thomas Shannon, poderia ter grande influência nesse debate – e pressionou pela confirmação do seu nome no Congresso americano.

“As empresas vão ter que ser cuidadosas”, conclui o documento. “Diversos contatos no Congresso (brasileiro) avaliam que, ao falar mais abertamente sobre o assunto, as empresas de petróleo estrangeiras correm o risco de galvanizar o sentimento nacionalista sobre o tema e prejudicar a sua causa”.

Na Lei do Abate, Brasil se submete à aprovação dos EUA

clique aqui para ver os documentos

Documentos obtidos pelo WikiLeaks mostram que o Brasil se submete a avaliações de segurança aérea para obter uma assinatura do presidente americano aprovando a maneira como a polêmica Lei do Abate é aplicada.

A lei prevê a possibilidade da Força Aérea derrubar aviões sob suspeita de fazer tráfico de drogas. O tiro de misericórdia só pode ser aprovado pelo presidente da República. O Brasil nunca chegou a derrubar um avião.

A lei é muito criticada por significar na prática a execução devido a um crime num país que não adota a pena de morte.

Um documento de 2004 mostra que as negociações para que os EUA fizessem a avaliação aconteceram “por debaixo do pano”, de maneira que não tivessem que passar pelo crivo do Congresso Nacional brasileiro.

Na época, os Estados Unidos estavam pressionando ecnomicamenete os países sulamericanos vistos como rota de tráfico para os EUA a se submeterem aos seus critérios e métodos de inspeção.

Os países “parceiros” passam por certificação do presidente americano. Somente com essa certificação as empresas americanas podem continuar fornecendo equipamentos às forças aéreas. No caso do Brasil,  a Força Aérea Brasileira (FAB) tem que provar que segue direitinho os “requisitos de segurança” dos EUA.

À margem do Congresso

Um telegrama de 2 de agosto de 2004 mostra que o o então chefe de gabinete do Ministério da Defesa, Fernando Abreu, teria afirmado que o Brasil estava disposto a “passar ampla informação em bases informais” para o governo americano.

A estratégia seria fazer um “acordo secreto”.

Fernando teria dito que qualquer acordo que ferisse a soberania brasileira receberia uma “reação negativa do Congresso e da população”.

A solução, acertada em uma reunião no final de setembro entre representantes do Departamento de Estado dos EUA e do nosso Ministério da Defesa, seria fechar apenas um “compromisso político” em forma de “troca de notas” entre os dois governos, em vez de um “acordo vinculante internacional”.

“Para Abreu, o limite era qualquer linguagem que indicasse que a troca de notas diplomáticas seria um acordo internacional vinculante, o que necessitaria a aprovação do texto pelo Congresso brasileiro”, diz o então embaixador dos EUA em Brasília, John Danilovich.

Em junho de 2008, outro embaixador, Clifford Sobel, escreveu que a embaixada estava envolvida com o governo brasileiro “para avaliar os procedimentos de segurança concernentes ao seu Air Bridge Denial” (a Lei do Abate, em inglês).

Sob pressão do EUA para que as inspeções sejam mais rigorosas, ele tenta convencer Washington a dar a certificação presidencial naquele ano, afirmando que o aumento dos critérios da inspeção poderia prejudicar o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que seria “um dos maiores defensores de um melhor relacionamento com os EUA”.

Ele também sugere o financiamento de viagens de controladores de vôo brasileiros até os Estados Unidos como forma de infuenciar integrantes a FAB e obter mais informações sobre a segurança aérea.

Os EUA queriam ter mais acesso às instalações brasileiras para poder avaliar melhor os procedimentos previstos pela Lei do Abate.

Os documentos originais estão publicados no site do WikILeaks (http://wikileaks.ch/reldate/2010-12-12_0.html) para consulta pública.

América Latina

Pra quem quer acompanhar em primeira mão a o material do WikiLeaks, não esqueçam de visitar a página (http://wikileaks.ch/cablegate.html)  e dar um clique em Latin America. Tem matérias novas, exclusivas, (quaaase) todo dia.

Pra quem não viu, uma reportagem descreve o documento em que os americanos prevêem um ano dificil para Manoel Zelaya, então presidente de Honduras – exatamente no ano do golpe.

O embaixador americano em Tegucigalpa,  Charles Ford, não sugere desestabilizar o governo de Zelaya, mas deixa claro que, na sua visão “Zelaya não tem amigos de verdade fora da sua família, jáque ele ridiculariza publicamente os seus aliados”  e que “estrategicamente ele está sozinho”.

Leia  a íntegra, em inglês, aqui.

Outra reportagem narra a crescente tensão entre o governo colombiano e os indígenas. Cada vez mais, as comunidades nativas estão sendo massacradas na guerra entre as Farc e o exército.

Em setembro deste ano, o Departamento de Estado americano certificou o congresso de que o exército colombiano estava respeitando os direito humanos (para justificar os populdos fundos destinado a ele). Porém, um telegrama da embaixada em Bogotá enviado em 12 de fevereiro de 2010 prova que Washington sabia que civis estavam sendo feridos por nconta de operações militares.

O telegrama (click here)  conta que no dia 30 de janeiro de 2001, um ataque aéreo feito pela força aérea colombiana perto do território indígena Embera – Katio atingiou e feroiu gravemente não un integrante da guerrilha, mas um casal com um bebê de 20 dias.  Para ler a reportagem no original em inglês clique aqui.

Sobre a triste situação dos índios  na Colômbia, escrevi uma longa reportagem no ano passado para o Opera Mundi. Quem se interessar, está nesse link.

Clinton pediu informações pessoais sobre integrantes do governo

Dentre os quase 3 mil documentos obtidos pelo WikiLeaks que tratam de Brasil há um de especial interesse.

Trata-se de um telegrama confidencial enviado no dia 23 de abril de 2009 ao departamento politico da embaixada em Brasília e assinado pela própria Secretária do Departamento de Estado americano, Hillary Clinton .

Ele mostra que tipos de informações Hillary demanda para melhor negociar com o governo brasileiro.

Todo escrito em letras garrafais, o documento – produzido dois meses e meio depois da posse de Clinton no cargo – mostra que ela pediu informações detalhadas sobre membros do governo.

Ela agradece pelos detalhes biográficos enviados a respeito do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e da negociadora do Itamaraty, embaixadora Vera Machado.”Essa informação ajuda a preencher vácuos biográficos sobre atores-chave na política ambiental e de mudanças climáticas – um tema bilateral muito importante”.

Em especial, os oficiais de Washington valorizam informações sobre “o jeito de atuar dos líderes, motivações, qualidades e defeitos, relações com superiores, sensibilidades, visões de mundo, hobbies e proficiência em linguas”.

Relatos sobre divergências e convergências entre os líderes brasileiros em relação a temas econômicos, políticos e de relações exteriores,também serviriam para os americanos identificarem “interlocutores favoráveis ou obstáculos” nos temas prioritário como energia e comércio/protecionismo.

Washington também pede que o corpo diplomático reúna informações sobre “divisões dentro do núcleo do governo Lula” em relação às políticas usadas para atenuar os efeitos da crise econômica – em especial aquelas que pudessem afetar o comércio bilaterial entre os dois países.

Por fim, Clinton agradece informações sobre “a relativa influência de assessores econômicos, seus estilos de negociação e sua autoridade” e pede mais detalhes sobre a pesonalidade dos membros do executivo que elaboram  projetos de lei.

Eles ajudariam a Casa Branca a “avaliar a influência, as visões de mundo e a linha política” desses indivíduos.