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DEM minimiza mensalão de Arruda a americanos

A mensagem em que os americanos descrevem as articulações dos partidos nanicos em torno do nome de Ciro Gomes já fazia menção ao escândalo de Arruda. Naquela época, o DEM já se preparava para expulsar o seu único governador da legenda. Um membro não-identificado do partido resumiu-se a dizer que o incidente ainda era “muito desastroso para se falar sobre agora”.

O nome de José Roberto Arruda era o mais cotado dentro do DEM para ser vice na chapa de Serra. Sua plataforma política no DF pautava-se pela eficácia, a ponto de Arruda proibir o uso do gerundismo no atendimento dos órgãos do GDF. Onyx Larenzoni (DEM-RS) e outros co-partidários disseram a diplomatas americanos que acreditavam que Arruda ficaria no Palácio do Buriti até as eleições de outubro mesmo com todos os processos contra ele e dos esforços em se arrolar um impeachment do governador. A mensagem observa que isto era dito “sem nenhum grau de raiva ou frustração”.

De acordo ainda com o telegrama, a grande preocupação sobre o mensalão do DEM no DF era que três das mesmas empreiteiras envolvidas nas propinas a deputados distritais tinham forte presença em estados governados pela oposição como Minas Gerais e São Paulo. O então senador Gim Argello (PTB-DF) disse aos americanos que duvidava que estas empresas participassem de práticas deste tipo nos outros estados. Notado na mensagem como um “investidor do ramo imobiliário com seus próprios interesses”, Argello descreveu o escândalo de Arruda como algo endêmico ao DF. “A corrupção de Arruda era conhecida entre os empreiteiros da região e isso criou um ambiente onde propinas eram necessárias”, explicou Argello aos americanos.

Em face dos vídeos “parecidos com You Tube” de políticos ligados a Arruda colocando maços de dinheiro em maletas e meias, os americanos avaliaram que a vaga de um vice do DEM na chapa da oposição como nas últimas eleições presidenciais estaria perdida. Em conversa com um oficial político da embaixada, ACM Neto (DEM-BA) confessou que seu partido planejava concorrer com uma plataforma de governo eficaz que “não tinha uma mensagem identificável”.

A possibilidade de uma chapa da oposição sem um vice do DEM era bem vista pelo deputado Bruno Araújo (PSDB-PE). No entanto, Araújo estava preocupado que outros escândalos envolvendo o PSDB viessem à tona, forçando o partido a esmerar-se pela sua imagem de “partido do bom governo”. De acordo com ele, o caso do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) envolvido em um esquema de mensalão em sua campanha para governador de 1998 era “tudo fumaça, nada de fogo”.

Ronaldo Caiado (DEM-GO), então líder do partido na Câmara, já admitia que o escândalo de Arruda atingiria o partido dono das terceiras maiores bancadas na Câmara e no Senado nas eleições. Caiado colocou que o DEM se distinguiria dos demais partidos expulsando Arruda. “Ao contrário do PT, que não fez nada com os envolvidos no Mensalão”, teria dito Caiado. “Licitações estaduais e federais geralmente lançam fundos para contratar empresas mensalmente, com controles fracos para detalhamento e justificativa de itens e gastos, fazendo com que o mensalão seja facilmente o esquema bipartidário favorito de corrupção no Brasil”, descrevem os americanos.

 

Apresento… A PÚBLICA!

Este post é para apresentar uma nova iniciativa que estou tocando com duas grandes jornalistas, Marina Amaral e Tatiana Merlino. Um sonho de muitos anos que finalmente está se tornando realidade.

A Pública é uma agência de jornalismo investigativo inspirada em modelos que já existe em diversos países, onde entros  independentes se dedicam a fazer reportagens de fôlego, que têm perdido espaço nos veículos tradicionais.

A proposta da Pública é fazer jornalismo  “puro” – reportagem – em parceria com veículos, instituições  e jornalistas independentes do Brasil e de todo o mundo.

Já estamos com um site próprio, onde vamos publicar conteúdo de diversos cehtros do tipo em todo o mundo e onde vocês poderão  conhecer mais sobre nós e o projeto.

Logo logo este blog, que continuará publicnado material exclusivo com base nos documentos do WikiLeaks, vai também mudar para o nosso site.

Então anotem aí o endereço: apublica.org. Será um prazer vê-los por lá.

Wikileaks: Para cônsul, crise econômica e eleições ampliaram influência de sindicatos no Brasil

Do Futepoca

Na análise da estrutura diplomática dos Estados Unidos no Brasil, os sindicatos viram sua influência crescer nos oito anos de governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A superação da crise econômica de 2008-2009 e a perspectiva das eleições presidenciais indicavam expansão dessa ascendência, ainda na visão dos estadunidenses em missão no país.

Em telegrama do quinto lote vazado pelo Wikileaks para blogues, Thomas White, cônsul-geral dos Estados Unidos em São Paulo, relata encontros entre Ron Kirk, representante comercial do governo Barack Obama, e membros de sindicatos e centrais sindicais. O documento é datado de 13 de outubro de 2009, pouco menos de um mês depois da visita de Kirk ao país, em 16 de setembro.

Apesar dos atuais desafios econômicos globais e de uma rodada de greves recentes nos bancos, indústria automotiva e nos Correios, o sentimento expresso pelos sindicalistas no contato com Kirk e em reunião posterior (de follow-up) no consulado, demonstrou que, sob o governo Lula os sindicatos organizados tiveram sua voz sendo ouvida em questões sociais, políticas e econômicas. “À medida que o Brasil sai da crise econômica e move-se para eleições nacionais em 2010, os sindicatos terão maiores oportunidades para expandir sua influência”, diz o texto.

Quem participou da reunião, na ordem elencada pelo telegrama, foi

  • Ivan Gonzalez, coordenador político da Confederação Sindical das Américas (CSA) – à qual são filiadas CUT, Força Sindical e UGT
  • Braz Agostinho Albertini, presidente da Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Estado de São Paulo (Fetaesp)
  • Joao Carlos Goncalves, o Juruna, secretário geral da Força Sindical
  • Ortelio Palacio Cuesta, secretário de assuntos internacionais da Força Sindical
  • Lourenco Ferreira do Prado, vice-presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT)
  • Caninde Pegado, secretário Geral da UGT
  • Maria Silvia Portela de Castro, assessora internacional da CEntral Única dos Trabalhadores (CUT) – “Sole Center of Workers”, na tradução livre; e
  • Brian Finnegan, diretor para o Brasil do Centro de Solidariedade da AFL-CIO.

Protecionistas mas limpinhos
A imagem não é fácil de ser imaginada, sindicalistas na mesma mesa com um representante comercial dos Estados Unidos. Sem nenhuma reivindicação nem qualquer belicosidade no ar. Mas é assim que é descrito o encontro.

Os sindicalistas no Brasil têm, na definição de White, “visões protecionistas/pró-política industrial”. No entanto, ainda segundo o cônsul, eles mostraram-se dispostos a encontrar e se envolver com o representante comercial – “um sinal que vemos como positivo”, relata White.

Na perspectiva da embaixada, o contato entre o membro do governo dos EUA e os sindicalistas foi quase toda positiva, com exceção de algumas demandas por saber mais sobre a política de Obama para a área comercial.

De olho na cana
A inclusão do representante da Fetaesp, um dos sindicatos relacionados a trabalhadores rurais do setor sucroalcooleiro, pode indicar interesse comercial dos Estados Unidos sobre a questão. As denúncias internacionais de superexploração dos boias-frias são motivo de preocupação dos usineiros, a ponto de a União da Indústria de Cana-de-açúcar (Única) ter assinado um protocolo com garantias de fim da intermediação de mão de obra.

O etanol produzido do milho é um concorrente internacional do obtido a partir da cana. O impacto social do cultivo da cana (além do dano relacionado às queimadas para permitir a entrada dos trabalhadores no corte) sempre aparece entre os aspectos negativos do álcool combustível produzido no Brasil. Em telegrama divulgado anteriormente, há menção à informalidade na contratação dos boias-frias.

No telegrama em questão, relata-se que Albertino considera que a forma preferida por empregadores para a remuneração, o pagamento por peso cortado – e não por hora trabalhada –, é um dos vilões. O texto cita leis estaduais e acordos entre usineiros comprometendo-se a mecanizar toda a produção até 2014 e a consequente onda desemprego de trabalhadores de baixa qualificação profissional.

“Expressando a frustração de alguns dos cortadores (de cana), ele (Albertino) reclamou: ‘há mais leis regulando a proteção dos animais criados na pecuária do que dos cortadores de cana'”, completa o cônsul.

Parceria
No final da conversa, tanto Juruna quanto Silvia Portela teriam cogitado a possibilidade de a estrutura consular dos EUA oferecer, em algum tipo de parceria com os sindicatos ou com as centrais sindicais, cursos de inglês ou programas de intercâmbio para jovens em cursos profissionalizantes. Nenhuma resposta consta no documento. Mas mostra que o pessoal não perde tempo.

Eleições 2006: Oposição manteve maior contato com diplomatas

Por Marcus V F Lacerda

Dentre os políticos brasileiros que tiveram contato com os diplomatas dos EUA, os do PSDB são os mais assíduos com 6 tucanos aparecendo em encontros. Além dos secretários paulistas Andrea Matarazzo (06SAOPAULO676) e Fernando Braga (06SAOPAULO935), estão figuras ilustres entre Tasso Jereissati (06BRASILIA1837), Aloysio Nunes (06SAOPAULO400), Sérgio Guerra (06SAOPAULO1963) e o então recém-eleito governador de São Paulo, José Serra com o próprio embaixador americano Clifford Sobel (06SAOPAULO1131).

O único pessedebista que aparece mais de uma vez nos telegramas é o secretário de Ciência e Tecnologia e seu coordenador de campanha, João Carlos Meirelles. Entre março e outubro de 2006, Meirelles estabeleceu 4 contatos com diplomatas americanos (06SAOPAULO316, 06SAOPAULO647, 06SAOPAULO810, 06SAOPAULO1069).

Além dos políticos do PSDB, foram também contatados pelos americanos nomes ligados ao partido como o tributarista Raul Velloso (06BRASILIA608), um dos acadêmicos da área econômica com quem Alckmin buscava conselhos. Outro nome ligado ao partido tucano é o de Christian Lohbauer (06SAOPAULO387) que foi secretário-adjunto de Relações Internacionais de Serra e na época do encontro foi identificado como lobista do setor aviário.

A decisão do partido entre Serra e Alckmin é analisada pelos americanos em um telegrama. A suspeita de uso de dinheiro público no financiamento da campanha de Alckmin que gerou o escândalo da Nossa Caixa também é mencionado pelos americanos (06SAOPAULO350) que se mostraram confusos com as acusações.

“De qualquer forma, dada à reputação ilibada de Alckmin, seria estranho para ele ter que se desviar com uma desculpa do tipo ‘todo mundo faz isso’”, observam os americanos.

O programa do candidato tucano é detalhadamente descrito em telegrama de 3 de julho de 2006 (06SAOPAULO734). Nos comentários, o observador político do consulado americano de São Paulo cita uma de suas fontes (esta não-identificada).

“O problema de Alckmin é que, como um médico de interior, ele não sabe pensar grande”. A alusão à indisposição de alguns membros do partido do candidato vai mais longe em uma comparação. “Além disso, como anestesiologista, ele sabe como preparar o paciente para a cirurgia, mas está acostumado então a sentar-se e deixar alguém fazer o trabalho duro enquanto ele se satisfaz checando os sinais vitais”, cita o telegrama.

FHC e as esquerdas na América Latina – Diplomatas americanos ainda estiveram no seminário “A política externa brasileira para a América do Sul no período recente: balanço e perspectivas”, realizado no Instituto Fernando Henrique Cardoso (06SAOPAULO516).  O evento contou com a presença do ex-ministro de FHC Sérgio Amaral, o ex-embaixador brasileiro nos EUA, Rubens Barbosa e o economista da PUC-RJ, Marcelo Paiva de Abreu.

O encontro, mediado pelo ex-presidente que dá nome à instituição, criticou a proximidade que Lula vinha mantendo com os vizinhos esquerdistas. Para os interlocutores, havia uma “esquerda positiva” na América do Sul identificada pelo Chile de Michéle Bachelet, e uma “esquerda negativa” constituída pelo boliviano Morales, o argentino Néstor Kirchner e o venezuelano Hugo Chávez. “As visões expressadas no painel não estão fora da perspectiva vigente da elite do Brasil”, comenta o telegrama.

Kassab – Outro partido da oposição que teve encontros com diplomatas americanos foi o atual DEM, com quatro políticos participando de reuniões. Além dos já mencionados Cláudio Lembo, José Carlos Aleluia e o falecido Antônio Carlos Magalhães, o então vice-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (06SAOPAULO102).

No encontro reportado no telegrama de 1 de fevereiro de 2006, Kassab, que atualmente negocia uma saída do DEM com partidos aliados do governo, via a aliança entre PFL e PSDB na disputa eleitoral como sendo “natural e legítima” e acreditava que o nome de Jorge Bonhausen seria o mais apropriado para ser vice na chapa da oposição. Para ele, Serra era o melhor candidato que o PSDB poderia lançar. O cable observa que algumas de suas fontes sugeriam que Kassab não tinha experiência para governar São Paulo. No entanto, notam sua importância dentro do PFL àquela época.

“Enquanto Kassab mantém-se discreto, ele é um homem hábil dentro de seu partido e muito próximo de Bonhausen”.

Vitória tucana no RS – Tratando ainda sobre o principal partido da oposição, há um telegrama que sai da esfera da disputa presidencial e foca a vitória de Yeda Crusius no Rio Grande do Sul (06SAOPAULO1105) sobre o candidato do PMDB, Germano Rigotto.

Os americanos se mostram surpresos tanto com o fato da vitória da tucana, quanto pela expressiva quantidade de votos a Alckmin no estado. Lula teve 1,5 milhão de votos a menos que Alckmin em um estado no qual ele sempre teve a preferência entre os eleitores. Para os diplomatas, esta foi uma reação aos escândalos envolvendo o PT no primeiro mandato de Lula.

Garotinho – um telegrama (05RIODEJANEIRO1118) de 10 de junho analisa as perspectivas de Anthony Garotinho, pré-candidato presidencial: “Garotinho: a caminho da presidência ou um exilado da política?”. Para o cônsul  no Rio, se ele sobrevivesse ao escrutínio da justiça eleitoral, ele seria uma força política determinante. “E se a economia piorar, ou se os escândalos chegarema  Lula, ele pode vir a ser o mais bem colocado nas eleições”, escreve.

Diplomatas dos EUA transitavam facilmente pelo governo Lula

Por Juliana Sada, o Escrevinhador

Os últimos documentos revelados pelo Wikileaks mostram a facilidade com a qual os membros das embaixadas americanas têm acesso aos membros do governo, líderes de partidos e importantes figuras do meio empresarial e político.

Os telegramas mostram que dois importantes membros do governo Lula estabeleceram uma estreita relação com a embaixada dos EUA e se declararam dispostos a manter um canal de diálogo aberto. São  Hélio Costa, que era Ministro da Comunicação, e Gilberto de Carvalho, então chefe do gabinete pessoal do presidente Lula e atual secretário-chefe da Presidência.

Canal direto com Lula
Telegrama confidencial datado de primeiro de novembro de 2006, logo após a reeleição de Lula, relata um encontro de Gilberto de Carvalho com o embaixador americano Clifford Sobel e o conselheiro político da embaixada.

Carvalho afirmou que, no segundo mandato, Lula iria investir em “relações de qualidade com os tradicionais parceiros” e que para o Brasil crescer seria necessário envolver-se mais intensamente com os Estados Unidos. Apesar da boa notícia, Sobel questionou as críticas que os EUA teriam recebido por funcionários do alto escalão do governo. Carvalho prontamente tranquilizou o embaixador e pediu sua compreensão caso “a retórica durante a campanha tenha ocasionalmente parecido crítica aos Estados Unidos”.

Ao final do encontro, Carvalho teria dado o número de seu telefone pessoal e “os encorajado a contatá-lo diretamente a qualquer momento, se houvesse alguma dificuldade no desenvolvimento das relações entre os dois governos, ou se eles desejassem apresentar alguma questão diretamente ao presidente Lula”.

O documento relata brevemente encontros com o General Jorge Armando Félix, Ministro Chefe do Gabinete de Segurança Institucional, e Luiz Furlan, Ministério do Desenvolvimento. Ambos reafirmaram o interesse em aprofundar a cooperação com os EUA.  A receptividade surpreendeu o embaixador: “é intrigante que tenhamos recebido um intenso fluxo constante de fortes sinais dos altos conselheiros de Lula, no dia seguinte à sua vitória. Vamos ficar atento ao que virá”.

Porta aberta no PMDB
Já Hélio Costa se reuniu com o embaixador em setembro de 2009, quando discutiram assuntos diversos desde as eleições presidenciais até a política externa do governo, passando pela área de comunicação.

O então ministro declarou seu desejo de ver as relações entre Brasil e EUA fortalecidas, relembrando os anos que vivera no país, como jornalista correspondente da TV Globo. Costa falou de seus esforços na disseminação do acesso à internet sem fio, “usando muitas empresas americanas no processo”. E explicou o porquê da escolha do padrão japonês para a TV digital ao invés do americano mas garantiu que para o rádio digital, o padrão escolhido seria o americano.

 

O telegrama, assinado pelo diplomata Philip Chicola, afirma que “Costa foi generoso com o seu tempo e demonstrou evidente interesse em manter um canal aberto de comunicação com o embaixador. Na verdade, ele sugeriu numerosos encontros e jantares com líderes no Senado e do seu partido. Nós vamos potencializar essa disposição para ganhar acesso a outros líderes do PMDB e promover e defender as ações dos EUA na comunicação e em áreas relacionadas”.

ELEÇÕES 2006: quem estava de que lado

Mais um tema pedido pelos leitores, as eleições de 2006 deram muito pano pra manga na representação americana. Tanto a equipe de Brasília quanto a de São Paulo – chefiada pelo cônsul MacMullen – se esforçaram para acompanhar o desenrolar político.

Uma rápida estimativa das fontes mostra que o consulado em São Paulo esteve muito mais próximo dos tucanos – o cônsul reuniu-se diversas vezes com o coordenador da campanha de Alckmin João Carlos de Souza Meirelles, além de Sérgio Guerra, Tasso Jereissati, Gilberto Kassab, José Serra, Aloysio Nunes e outros. Mesmo achando que Alckmin é o “melhor gerente”, MacMullen permaneceu cético quanto às chances de vitória do tucano.

A partir de hoje, este e diversos blogsa associados começam a escrever histórias com base nestes telegramas, que serão publicados na íntegra no site do WikiLeaks na sexta-feira.

Escândalo do mensalão: oposição e governo temiam impeachment de Lula

Por Juliana Sada, O Escrivinhador

Documentos divulgados hoje pelo Wikileaks revelam como a diplomacia estadunidense acompanhou, em 2005, o escândalo do “mensalão do PT”. São diversas correspondências ao longo do ano relatando com minúcias o andamento do caso.

Um telegrama confidencial de agosto de 2005 – quando a CPI já ocorria e mudanças haviam sido feitas no alto escalão – mostra a preocupação, tanto do governo quanto da oposição, com a  estabilidade do país. O texto relata os esforços que estariam sendo feitos para que Lula não sofresse uma crise de legitimidade e um eventual impeachment. Como mostra o seguintes trecho do documento:

De fato, se há alguma “conspiração” em movimento, ela parece não ser das “elites” para afastar Lula do poder, mas sim esforços de importantes figuras políticas e institucionais, de todos os campos, para protegê-lo e poupar o Brasil do trauma nacional que uma crise em espiral – e especialmente um processo de impeachment – traria.

Preocupação generalizada

A correspondência relata ainda que Fernando Henrique Cardoso estaria “profundamente preocupado” com o impacto da crise no país. Outro líder da oposição, Jorge Bornhausen (DEM), também estaria inquieto. O documento revela que o então senador teria ido ao Rio de Janeiro para conversar com a direção do “império de mídia Globo” sobre a necessidade de precaução ao reportar os escândalos. Essa informação vem com a ressalva de que não poderia ser confirmada.

Outra importante figura pública que teria se pronunciado é o atual Ministro da Defesa Nelson Jobim, que ocupava a presidência do Supremo Tribunal Federal.

Foi relatado que o presidente da Suprema Corte, Nelson Jobim, teria dito a interlocutores, nesta semana, que a desilusão que acompanharia um impeachment de Lula – um ícone carismático da democracia brasileira e símbolo de esperança para a população mais pobre – causaria graves problemas sociais e de governança no Brasil nos próximos anos.

A popularidade de Lula
A embaixada estadunidense também estava preocupada com a estabilidade do país. Nos diversos telegramas ao longo de 2005, há comentários sobre a governabilidade. São relatadas diversas pesquisas de opinião sobre a repercussão do escândalo, a popularidade do presidente e do governo, e se a população vinculava ou não Lula ao suposto esquema de corrupção. São recorrentes os comentários sobre como o presidente conseguiu manter sua aprovação popular em um nível alto – apesar de ligeiras baixas – e se desvincular do escândalo.

Leia os documentos, em inglês, aqui.

WikiLeaks: Lula deixou “a faxina para outros” nos arquivos da ditadura

Por Felipe Corazza

Apesar dos esforços do ministro Nelson Jobim para “enterrar” o passado da ditadura militar brasileira, as feridas ainda estão abertas e atormentam o presente do país. Longe da esquerda, a constatação é da diplomacia dos Estados Unidos e está em um pacote de telegramas enviados da embaixada em Brasília para o Departamento de Estado em Washington.

Os documentos vazados pelo WikiLeaks começam a tratar do assunto em 2004, no quadragésimo aniversário do golpe que levou os militares ao poder. Os documentos registram, inclusive, que muitos brasileiros acreditam na participação direta do governo americano na derrubada de João Goulart – apesar de refutarem a tese com veemência sempre que a mencionam. “Embora seja cada vez mais distante, a era do regime militar ainda projeta algumas sombras sobre as relações Brasil-EUA”, diz o primeiro dos telegramas.

Os documentos dão muita atenção ao desconforto do governo Lula em relação à abertura dos arquivos da ditadura e a anulação da anistia a torturadores. “O presidente Lula não tem pressa de abrir os arquivos, dizendo aos chefes das Forças Armadas no dia 24 de outubro que ele aprova que os mantenham selados e pedindo aos oficiais que cooperem com o Comitê de Direitos Humanos se houvr audiências”, diz um dos trechos. A conclusão do telegrama é incisiva: “Lula parece disposto a passar a outras questões e deixar a faxina para outros”.

O embaixador Clifford Sobel comunica a seus superiores, ainda, que o Supremo Tribunal Federal é outro empecilho, em particular pela postura do então presidente, Gilmar Mendes: “Mendes advertiu que casos relativos aos governos militares foram uma fonte de ‘prolongada instabilidade’ em outros países”.

Outros trechos de telegramas são curiosos. O PMDB, por exemplo, é citado pela diplomacia americana como um “entulho” do período militar. As raízes no MDB – “a única agremiação de oposição permitida pela ditadura” -, a legenda é vista como um partido “que evoluiu para uma máquina de apoio que ainda hoje frustra os presidentes”.

Os americanos também parecem se divertir com o que enxergam nos escombros da ditadura brasileira: “A cultura, economia e vida política brasileiras ainda contêm muitas dessas ironias (por exemplo, a gigante da aviação Embraer, de propriedade privada, começou como uma sinecura paraestatal para ex-oficiais da Força Aérea em 1969)”. A Embraer deixou o período militar, profissionalizou-se e evoluiu. Os arquivos da ditadura, no entanto, seguem fechados.

No Brasil

“Parecia que a gente estava no Brasil”, me disse um estudante ontem à noite, voltando da passeata em São Paulo que, mais uma vez, acabou em assombrosa pancadaria.

Excitando, gesticulando, ele veio no ônibus me contando da peripécia de ontem, fez vigília diante da prefeitura de SP para proteger os amigos que se algemaram lá dentro. Estava feliz, eles conseguiram sair pela porta da frente, atraíram a imprensa: “nós vencemos”.

Enquanto fazia a vigília, ele e seus colegas improvisaram um jogo de futebol diante do prédio, pararam a rua, e aí um ou outro transeunte ajudou quando a bola escapava para longe. “Sabe aquela coisa, futebol, todo mundo entrando junto na dança?”, dizia ele. “Parecia que a gente estava no Brasil”.

Peru disse que preferia hegemonia brasileira à dos EUA

Em 13 junho de 2006, o presidente peruano Alan García visitou o Brasil e foi recebido pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Era a primeira visita de García após sua eleição, em 4 de junho daquele ano – ainda antes, portanto, de sua posse no cargo.

Além da conversa com Lula sobre oportunidades em comércio bilateral, o ex-chanceler Celso Amorim ofereceu um almoço a García no Palácio do Itamaraty. Com a forte demonstração da intenção peruana de se aproximar do Brasil, a recepção acabou se tornando um  verdadeiro “festival do amor”, segundo o então subsecretário para assuntos políticos do Ministério do Exterior peruano, Pablo Portugal.

Portugal, que hoje segue carreira diplomática, segundo documento obtido pelo Wikileaks, ao qual o Opera Mundi teve acesso, se encontrou com o embaixador norte-americano em Lima no dia 14 de junho para um café-da-manhã, acompanhado do subsecretário para Américas Luis Sandoval. No despacho confidencial, intitulado “Encontro Lula-Garcia é um festival de amor”, o ex-embaixador James Curtis Struble comenta que Portugal passou a maior parte dos 90 minutos do encontro “relembrando a atmosfera” da reunião entre os dois presidentes.

Portugal disse que Lula e García “retomaram sua “calorosa amizade de duas décadas” e adicionou: “Se a relação entre Toledo e Lula era de ‘parceria’, a relação García-Lula vai ser um ‘casamento’”. Para ele, o ‘casamento’ seria cimentado com a visita oficial de García ao Brasil no final de agosto. A visita acabaria ocorrendo apenas em novembro.

Etanol e Gerdau

Na visita, os dois conversaram sobre possíveis parcerias, como a estrada interoceânica, a cooperação em programas de erradicação da pobreza, a possibilidade de ajuda do Brasil para o Peru desenvolver etanol e biodiesel e participação brasileira na construção de rodovias e com a Petrobrás no país.

Segundo o despacho, Lula abriu as portas para o grupo Gerdau, observando que o grupo brasileiro estava interessado em comprar a metalúrgica Siderperu. Em 9 de fevereiro de 2011, a empresa brasileira anunciou um investimento de US$ 120 milhões durante os próximos três anos na siderúrgica, depois de reunião com Alan García.

Já García pediu uma visita de Pelé ao Peru para promover atividades esportivas.

“Lula enfatizou que o Brasil não buscava ‘hegemonia’ através de uma aliança com o Peru, mas via isso como um veículo para unir a América do Sul para que toda a região pudesse virar um ator global em igualdade com a China e a Índia”, relata o documento

Em resposta García teria deixado claro seu apoio à liderança brasileira. “García reassegurou Lula sobre as ambições brasileiras para a liderança regional, dizendo que ele preferia a hegemonia do Brasil à dos EUA”.

Chávez

Em seguida, Portugal enfatizou o “valor” de uma forte relação entre Brasil e Peru “para se contrapor a Chávez” – e disse que o Itamaraty pensava da mesma maneira. “A esse respeito, disse ele, o governo brasileiro, e o Itamaraty em particular, estava muito satisfeito de ver o triunfo de García sobre Ollanta Humala, vendo isso como uma reviravolta muito necessária contra Chávez e a ‘restauração do equilíbrio regional’”.

Para Portugal, o Brasil tentava lidar com Chávez ignorando seus arroubos mais agressivos. Mas, para o embaixador James Curtis Struble, essa política tinha “limitações”, já que não havia impedido o venezuelano de “incitar Evo” a nacionalizar bens da Petrobras. Em resposta, Portugual responde que o Peru poderia enfrentar Chávez “quando ele cruzar a linha”, por não ter interesses comerciais no país.

Stuble conclui o documento analisando que García estava “interessado não somente em coordenar com colegas socialistas no Brasil e no Chile, com quem ele sente uma afinidade, mas em projetar liderança vis-à-vis a Venezuela” – o que não significaria uma grande mudança quanto ao seu antecessor em termos de afinidade com os EUA.

O governo de Alan García é visto até hoje como um dos maiores aliados dos EUA na América Latina. Ele tem pedido mais apoio norte-americano no combate ao narcotráfico, e chegou a afirmar que não teria problemas em aceitar tropas norte-americanas no Peru para esse fim.