WikiLeaks, com ou sem Assange

Julian Assange é um homem impressionante. Fiel ao que acredita até o fim, ele lutou e luta diariamente pelo princípio que norteia o WikiLeaks – em resumo, que a internet possibilita lutar contra injustiça de uma maneira sem precedentes. “Injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar”, diz ele.

Seus amigos e colegas mais próximos estão desolados. O pensamento de que ele vai ficar sozinho numa cela por uma semana, sem companhia, sem acesso à internet, pelo simples fato de que não possui um endereço fixo no Reino Unido – foi esse o argumento usado pela justiça britânica para mantê-lo encarcerado – tem causado enorme revolta.

Só que, diferente do que muitos pensam, a prisão de Assange não vai parar o WikiLeaks. Tanto aqueles que fazem parte da organização como aqueles que têm sido parceiros no lançamento do Cablegate, como eu, vão continuar o trabalho.

Isso porque o WikiLeaks não é Assange. Aqueles que o perseguem não perceberam que, numa era digital, a colaboração é o que torna realidade empreitadas como essa, inovadoras, questionadoras, verdadeiras. Isso, a organização percebeu e desde sempre adotou.

O WikiLeaks tem muitos outros membros, engajados no momeno em acompanhar a a batalha na justiça com relação às acusações da Suécia, buscar meios de contornar o empecilho causado pelo congelamento dos fundos. Outros estão se dedicando ao duro trabalho de coordenar com todos os jornais parceiros a publicação dos documentos a cada dia.

É que, ao contrário do que muitos pensam, cada um dos documentos publicados pelo site do WikiLeaks tem que ser, por uma regra interna, cuidadosamente revisados para verificar se há nomes de pessoas que correriam riscos se fossem publicados.Todos esses nomes são retirados.  Este é um dos motivos também dos documentos estarem sendo publicados em partes e em parceria com os jornais – eles se comprometeram a verificar a segurança de cada um dos documentos.

Além disso tem um grupo grande de colaboradores escrevendo e editando material para o site de diversas partes do mundo. Voluntariamente. Essas pessoas têm feito reuniões de pauta, discutido melhores ângulos para as matérias e estão em constante contato através de comunicação segura.

Cada um está em um país, o que significa que os horários são um tanto diferentes. Mas tem muita gente virando noite para conseguir todos os dias levar ao ar novos documentos e escrever matérias originais. Mais uma vez, a nossa ideia é trazer o que a grande midia não vai dar. A partir de hoje haverá, por exemplo, matérias sobre América Latina.

O que os governos que investigam Assange ainda não perceberam é que a ideia de WikiLeaks vai além dele e além desse lançamento. O WikiLeaks é um novo conceito, uma nova ideia que não vai morrer.

Mesmo se aqueles que perseguem a organziação conseguirem bloquear todos os meios, inviabilizar este grupo de pessoas de fazer o seu trabalho, alguem tem dúvida de que vão surgir outros WikiLeaks, milhares de WikiLeaks devotados a publicar documentos que merecem vir a público?

15 Respostas para “WikiLeaks, com ou sem Assange

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  2. Rodrigo Albuquerque

    Isto é animador! Desejo que o WikiLeaks cresça, apareça e fique!

  3. Nora Jeane Santos Silva

    Natalia muito obrigada pela sua coragem.Sou uma pessoa comum, professora de ciências do interior de São Paulo.Sem um trabalho como este, eu não saberia de nada. Hoje sinto-me mais nova , em luta , Sinto-me unida a muitos
    de todos os cantos do planeta. na internet, posso fazer muito pouco porque não entendo quase nada disso. Mas já avisei todos os meus alunos. que a Carta Capital assumiu o compromisso de tornar publico o Wikileads. Obrigada pelo trabalho.

  4. hugo miguel medeiros do vale

    Quem seria o culpado por uma informação? Quem escreveu ou quem a provocou?
    E a liberdade de imprensa tão rebuscada?
    O cara é preso por dar informações “sigilosas”?
    Vá em frente Natália.

  5. Pingback: Ao vencedor, as batatas » Natalia Viana: Wikileaks, com ou sem Assange

  6. WikiLeaks, com ou sem Assange…

  7. Estou em Portugal, e, de forma geral, na Europa o cablegate tem gerado intenso debate na mídia e em rodas de conversa, etc. Entretanto, o impacto e repercursao do caso nao parece ser tao relevante no Brasil. Poucos amigos comentam sobre o caso, os grandes portais ou nao mencionam, ou mencionam apenas uma pequena nota de rodapé, etc. É impressao, ou realmente o caso nao tem a repercurssao que deveria ter no Brasil? A que fato isso se deve? A influência da Globo e da Veja e os seus possíveis laços de lealdaded com os EUA?

  8. Sobre o Wikileaks. Parece que o que está acontecendo com o imperialismo, do ponto de vista da ciência e tecnologia, seja o mesmo que aconteceu com a cabeça da ciência determinista no surgimento da física moderna (quântica). Não podiam acreditar no que estava acontecendo com suas verificações e constatações: A realidade se mostrou probabilística e incerta fazendo com que a mentalidade conservadora do nazista Max Planck ficasse abalada.
    Os computadores construídos para servir ao controle militar deste imperialismo que se ergueu trouxe, exatamente com ele, o germe do descontrole com a sua socialização pela via do mercado. Agora está abalando a democracia representativa que está saindo do controle. Estaríamos saindo, como diz Toni Negri, de um modelo imperialista para o império, e do antigo cidadão-estado nacional para o fenômeno da multidão em um novo patamar de planetarização da humanidade?

  9. É uma nova era no jornalismo e na política. Parabéns e boa sorte!

  10. Zumbi dos Palmares

    Muita força Natalia, trabalhos como o seu são essenciais para o aperfeiçoamento da cemocracia. Agora, minha curiosidade é grande. Não seria o caso de publicar um “manual” ou indicar alguns documentos na internet que orientam como criar serviços semelhantes ao “wikileaks”, ou explicar ao leigo como funcionam, até onde é possível explicar sem comprometer a segurança (sobre os sistemas, como os de segurança, dicas, etc)? Um forte abraço.

  11. É isto aí, Natalia. Reforco meus votos e perseveranca e coragem! Vocês já comecaram a mudar a história da mídia no mundo com a simples existência deste ousado projeto. Nada será como antes. Continuem este importante trabalho, existem milhoes de pessoas pelo mundo todo apoiando o ato revolucionário de vocês. A Wikileaks nao é Julian Assange, mas todos nós somos Julian Assange neste momento. Um grande abraco.

  12. marcelo oliveira

    Muito bom Natalia, espero que um dia tenhamos visibilidade suficiente pra começar a pressionar essa mídia porca e hipócrita no nosso país.
    Todo mundo tem rabo preso com todo mundo, ninguém fala do wikileaks. Quando falam, é uma minireportagem sem qualquer destaque.
    Excelente trabalho.

  13. Parabéns pelo seu trabalho. “Injustiça em qualquer lugar é injustiça em todo lugar”, ótima frase! É a hora das verdades serem mostradas…

    Abraço! 🙂

  14. “Mais uma vez, a nossa ideia é trazer o que a grande midia não vai dar.” Isso até emociona! Muito, muito bom!

  15. Acho fundamental que o wikileaks e a ideia de tornar público o que sempre deveria ter sido público continue crescendo.
    Parabéns, Natalia, pelo trabalho e boa sorte.

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