Michel Temer: programas sociais de Lula não promovem crescimento

Por Marcus V F Lacerda

O então presidente do PMDB, Michel Temer, encontrou-se no dia 9 de janeiro de 2006 com o cônsul-geral Christopher J McMullen para discutir a posição de seu partido nas eleições nacionais daquele ano.

Durante a conversa, o presidente do PMDB disse que os diversos programas sociais de Lula não promoviam nem crescimento ou desenvolvimento econômicos. Para o atual vice-presidente,  o PT se elegeu com um programa que não foi realizado durante seus primeiros quatro anos no poder, o que configuraria fraude eleitoral. Temer ainda acusa líderes do PT de desviar dinheiro público não em benefício próprio, mas para aumentar o poder do partido, o que teria agravado mais ainda a descrença do brasileiro.

Dúvidas

A primárias do partido estavam marcadas para 9 de março, mas Temer já havia dito à imprensa que tentava adiar a decisão interna para o final do mês. O telegrama lembra que a data limite para que os políticos que ocupassem cargos públicos que fossem competir deixassem seus postos seria 31 de março. As primárias do PMDB contariam com 20 mil votantes entre membros do partido e delegados escolhidos nas convenções estaduais.

Temer estava confiante na unidade do PMDB ao longo da eleição, tanto em favor de seus candidatos quanto em uma aliança com outro partido. O então presidente do partido previa 14 vitórias de governadores do partido, mantendo a presença forte pemedebista entre municípios e estados. O partido elegeu 10 governadores dos seus 16 candidatos nas eleições de 2006.

Na época, o PMDB já governava nove estados e tinha o segundo maior número de deputados na Câmara, perdendo apenas para o PT. A presença do partido nos municípios e estados também era expressiva. Além de estar no poder, o PMDB contava com a desilusão popular tanto com o governo do PT quanto com o da oposição. Uma pesquisa eleitoral que apontava o ex-governador Orestes Quércia liderando a corrida pelo governo paulista é citada na conversa entre Temer e McMullen.

Entre os possíveis nomes do PMDB na corrida presidencial são citados Anthony Garotinho, Germano Rigotto e Nelson Jobim. Apesar dos esforços do pemedebista carioca em fazer alianças, Garotinho encontrava resistências no próprio partido. O nome do governador gaúcho Rigotto não era muito conhecido fora da região Sul e Nelson Jobim ainda era ministro do STF, não podendo assim concorrer em eleições além de não contar com apoio substancial para as primárias.

Quando perguntado sobre a fragmentação do PMDB, Temer explicou que isso se dava tanto por motivos históricos como algo próprio dos partidos brasileiros. A legenda nasceu abrigando diversas frentes contra a ditadura, mas já no processo de democratização já dava origem a outros partidos (incluindo PT e PSDB). O partido é descrito no telegrama como uma organização que abriga diversos caciques que agem com peso político tanto nas esferas regionais quanto locais. Temer apenas aponta que o PMDB não é o único partido dividido entre si.

Sobre o programa político que o PMDB adotaria, Temer disse que o partido visava políticas que favorecessem crescimento econômico. O que não constituiria uma objeção à Área de Livre Comércio das Américas (ALCA). Temer disse que o PMDB procuraria tanto um fortalecimento do Mercosul quanto negociar com o bloco da ALCA. O que segundo o diplomata americano iria contra o cenário vigente.

Até aquele momento o PMDB manteria suas opções em aberto. Apesar de não ser mencionada na conversa com Temer, o telegrama menciona a questão da verticalização que estava sendo decidida pelo TSE. O partido queria saber a regra do jogo antes de decidir suas alianças, uma vez que a maioria de seus analistas acreditavam que um candidato próprio não teria um bom desempenho em um cenário onde as coligações feitas em âmbito nacional teriam que ser reproduzidas nos pleitos estaduais.

O enfraquecimento do PT – Temer criticou a visão “estreita” de Lula e seu enfoque em políticas sociais. Segundo o presidente do PMDB, os diversos programas sociais de Lula não promoviam nem crescimento ou desenvolvimento econômicos. Para o atual vice-presidente,  o PT se elegeu com um programa que não foi realizado durante seus primeiros quatro anos no poder, o que configuraria fraude eleitoral. Temer ainda acusa líderes do PT de desviar dinheiro público não em benefício próprio, mas para aumentar o poder do partido, o que teria agravado mais ainda a descrença do brasileiro.

Temer acreditava que a desilusão popular com Lula e o PT abria espaço para o PMDB lançar um candidato próprio. Se as pesquisas não apontassem uma alta nos votos de Lula antes das primárias do PMDB que seriam em março daquele ano, então o partido poderia lançar um candidato próprio.

O PSDB como opção – A fragmentação do partido e a falta de uma opção viável forçavam o partido a coligar-se ao PT ou com o PSDB. No entanto, a escolha de um nome próprio não impediria que esta aliança obrigatória fosse feita apenas no 2º turno das eleições presidenciais. Quando perguntado sobre que lado escolher, Temer lembrou que seu partido apoiou o governo de Fernando Henrique Cardoso. Uma nova fusão entre os dois partidos poderia selar uma aliança permanente entre PMDB e PSDB.

Uma resposta para “Michel Temer: programas sociais de Lula não promovem crescimento

  1. Manoel Luiz Gomes

    Evidente que as coligações são necessárias para num somatório de votos ser possível vencer eleições. Mas vejam só as contradições que isto traz. As opiniões expressas por Tamer dão um frio pela espinha. Já imaginararam se, por uma fatalidade, uma pessoa como ele, com o oportunismo fazendo parte de sua doutrina e destituido totalmente de qualquer princípio ideológico, assumisse a presidência da republica. Que frustação traria para a grande maioria do eleitorado que inderetamente o elegeu. Seria como um golpe branco na eleição democrática vencida pela maioria da população. Acho que em eleições, mesmo correndo riscos, vale a máxima popular: “antes só do que mal acompanhado”.

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